quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Blogar já não é a mesma coisa - The Economist*

Na subcultura antropologicamente isolada dos bloggers de elite, foi um divisor de águas e, com certeza, um divisor de lágrimas. Foi com “um coração pesaroso e muita consideração” que Jason Calacanis anunciou sua “aposentadoria dos blogs” para o final deste ano, a qual ele reputa como “a decisão acertada para mim e para minha família”. Calacanis, um dos fundadores da Weblogs, uma rede de blogs que foi, mais tarde, vendida ao portal AOL, havia sido um membro da “A-list” –aquela lista dos bloggers com mais incoming links (links de outros sites direcionados para o blog) e que têm maior autoridade sobre os motores de busca de blogs, como o Technorati. Como a atrapalhada partida de Napoleão de Elba ou como a inócua despedida de Michael Jordan do basquete, Calacanis sai de cena, retornando ao antigo e-mail para divulgar suas opiniões.“A blogagem é simplesmente muito grande, muito impessoal e carece da intimidade que me atraiu a ela”, disse ele, explicando sua decisão. Foi, segundo o próprio, a pressão de se manter na “A-list” (isto é, exatamente de manter seu blog tão grande e impessoal) que o pegou. Apenas alguns anos atrás, poucas pessoas blogavam, e ser uma celebridade na blogosfera requeria apenas pouco mais do que querer aparecer. Agora, leva trabalho duro. E auto-análise. “Hoje, a blogosfera é tão carregada, tão polarizada, e tão cheia de ódio que, simplesmente, não vale a pena”, lamenta Calacanis.O resto do mundo pode bem ter perdido o desenrolar dessa tragédia. Por trás dela, no entanto, está uma tendência maior: Blogar tornou-se um hábito dominante, o que –assim como com outros meios de comunicação na história– faz com que seus pioneiros o vejam com enorme desconfiança. Para os primeiros nessa prática, blogar, há uma década, significava publicar regularmente atualizações de textos, fotos e vídeos, sobre os próprios blogueiros e seus pensamentos, para alguns poucos amigos e familiares. Hoje, muitos usuários de internet também o fazem, só que podem não considerar isso como blogagem. Em vez disso, eles atualizam seus perfis no Facebook, no MySpace ou em outras redes sociais.Eles também fazem sua microblogagem, em serviços como o Twitter, que recria o sentimento cru, imediato e intimista dos primeiros blogs. As mensagens no Twitter, geralmente enviadas dos telefones celulares, têm menos de 140 caracteres e respondem à pergunta “O que você está fazendo?”. Evan Williams, co-fundador do Blogger –um antigo serviço de blogs que agora pertence ao Google, o Wal-Mart da internet– agora administra o Twitter, o que ele entende como o futuro.
Quanto às páginas de blog tradicionais (se é que cabe esse adjetivo), elas tendem, cada vez mais, a pertencer às organizações convencionais de mídia. Quase todos os jornais ou canais de rádio e televisão agora têm blogs e os atualizam mais rapidamente que qualquer blogueiro individual pode conseguir. Blogs profissionais, como o HuffingtonPost.com, para os liberais (com 4,5 milhões de visitantes em setembro), ou o FreeRepublic.com, para os conservadores (com um milhão de visitantes por mês), tiveram um papel fundamental na temporada americana de eleição presidencial, de acordo com a comScore, uma empresa de indicadores on-line. Essas empresas de “novas mídias” estão agora sofrendo com a desacelerada dos anúncios, exatamente como as suas rivais do mundo off-line. O Gawker, o império da fofocas via blog, já começou a dispensar seus blogueiros.Ao mesmo tempo, empresas que estão bem longe do setor de mídia adotaram a blogagem apenas como mais uma ferramenta de negócios. Estão usando os blogs tanto para passar mensagens ao seu público-alvo quanto como uma plataforma de comunicação interna, para uso dos seus colaboradores. Empresas como Six Appart, que comercializa o Movable Type, o TypePad e outras ferramentas de blogagem, estão vendo essas empresas como seu mercado mais promissor.Foi-se, em outras palavras, qualquer noção de que o ato de blogar, entendido como o uso de uma tecnologia, seja revolucionário, subversivo ou, de qualquer modo, especial. Isso, contudo, chateia alguns de seus pioneiros. Está confirmada, entretanto, a idéia de que blogar é útil e versátil. Na sua essência, é um sistema de gestão de conteúdo direto, que atualiza mensagens em ordem cronológica invertida (isto é, listando primeiro as mensagens mais novas) e permite a inserção de comentários e outras interações sociais. Vista assim, a blogagem pode morrer quase que da mesma maneira que os PDAs (Personal-Digital Assistants, os computadores de mão) morreram. Há uma década, os PDAs eram restritos àqueles que gostavam de usar agendas e calendários eletrônicos. Agora, eles se foram, mas ainda são onipresentes, na forma de recursos que constam de quase todos os aparelhos de telefonia celular.
Matéria Publicada no he Economist 06/11/2008 e publicada em portugues no HSM.com.br

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